segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Menino levado

Ele tem um rostinho e um jeitinho de menino travesso. Não pára em casa e vive sempre em busca de diversão pelas ruas de Nova Brasília. Com os pés no chão, cheios de barro, Alexandre Vitor Carvalho, de apenas sete anos, conhece cada cantinho do bairro onde vive. Mora com a mãe, Ivonilde Carvalho, de 35 anos, e com mais quatro irmãos, todos entre quatro e 13 anos. O pai vive em uma cidade do interior da Bahia, desconhecida pelo filho, e só aparece de vez em quando, mas Alexandre diz não sentir saudades.
Ele tem fama de briguento e gosta de pirraçar os irmãos, mas com a mãe é diferente. “Tenho medo da minha mãe. Quando ela briga comigo eu corro”, disse o garoto, dando risadas. Mas ele mesmo afirma. “É porque sou muito danado, perturbo demais”. Alexandre estuda pela tarde, na escola Adauto Pereira de Souza, em Nova Brasília. Ele está fazendo a 2ª série e gosta muito de estudar. Pela manhã acorda cedo, para não perder nem um tempo do dia. Vai direto pra rua, atrás dos amigos, mas está sempre em casa na hora certa de ir pra escola. Já sabe escrever algumas palavras e está aprendendo a ler.
E não é só em casa que ele recebe reclamações não. “Minha mãe já teve muita queixa minha da escola. Até lá eu sou ‘pintão’”, disse ele. Quando Alexandre volta da escola, toma banho, faz os deveres de casa e mais uma vez volta às ruas para brincar. Sua maior paixão é a bicicleta. “Brinco com as dos meus amigos o dia todo, mas nunca tive uma, queria muito”, falou com um ar triste. Ele contou que todo ano pede a Papai-Noel, mas nunca teve o seu pedido atendido, por isso não acredita mais. Gosta muito de bola também, joga muito bem. Aliás, além da bicicleta, outro maior sonho dele é ser jogador de futebol. “Queria muito ser igual ao Ronaldinho”, disse. Costuma “bater o baba” no fim de linha do bairro mesmo, em meio aos ônibus, pois o campo de futebol que tem lá é muito longe e perigoso para as crianças da idade dele. “Minha mãe não deixa eu ir, tem medo”, contou ele.
Ele não tem nenhum brinquedo, disse que a mãe dele nunca quis dar, mas se vira como pode. Gosta muito de fazer periquitos, empinar pipa. Brinca com bolinhas de gude, que arranja com uns amiguinhos.
Mas não é só da mãe Ivonilde que ele tem medo não. Alexandre teme ao ver um policial. Começa a chorar, a tremer, a suar, e a pedir pra ir pra casa. “Tenho muito medo da polícia, eles matam”, disse. Acha o bairro violento e vive amedrontado, com receio de sair à noite. Ele disse que “tem muito tiro”.
Alexandre fala em ser jogador de futebol, médico, mas não sabe ao certo o que quer ser quando crescer. Quem sabe não será um ambientalista? Um biólogo? Segundo dona Ivonilde, ele gosta muito de animais, de plantas, e vive se preocupando com a escassez da água. É um menino corajoso, que não tem medo de injeção e agulha. “Já tomei ponto e nem chorei”. E foi rodeado de amigos que Alexandre se despediu, correndo ao encontro dos seus companheiros da bagunça, olhando para trás, sorrindo e falando: “Obrigada tia, hoje foi legal, me senti importante”.



Obs: Perfil de um menino que mora num bairro carente de Salvador. Minha intenção era mostrar os sonhos, desejos e perspectivas desse garoto, para termos noção do que se passa na cabeça de crianças como ele, que se sentem "diferentes" daquelas que moram "do outro lado".

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